Xavier, Nubea Rodrigues[1]
A reforma ortográfica desde a sua implantação tem ocasionado à população, de uma forma geral, dúvidas quanto à escrita de algumas palavras. Inúmeras reportagens e artigos estão frequentemente esclarecendo as mudanças ocorridas em nossa ortografia. Mas será que há tantas mudanças? Será que as regras ortográficas são em sua totalidade novas?
Se formos analisarmos, regra por regra, podemos dizer que não há tanta inovação. Primeiro, no aumento de letras do alfabeto para 26 letras. O k e o w são moleza, qualquer internauta, que conviva diariamente com Kb e Web - alguma coisa, notou que ambas não faziam parte, oficialmente, do nosso alfabeto, mas que faziam parte do nosso cotidiano. Sem falar, no quão é usual ouvirmos nomes como, por exemplo, Keila, Wesley ou Wellinton. E, quanto ao y, qual criança não se acostumou com os desenhos animados japoneses, que tem a maioria de seus personagens como o Ben Tennyson (Ben 10), e termos começando com y. Portanto, a primeira regra não tem dificuldade nenhuma, tiramos de letra, aliás, aumentamos as letras.
Segunda regra cai o trema. Não, na verdade não caiu o trema, ele já tinha sumido da maioria das nossas grafias. Quem é que ao preencher uma lâmina de cheque, escrevia cinquenta com trema? O valor seria pago mesmo, com o sem o trema. E a palavra linguiça? O sabor desse embutido não ficaria melhor ou pior, nem mais apimentado, se não o escrevêssemos com o trema. Sabemos que mais de 90% das pessoas não utilizavam o trema, apesar das palavras ficarem estranhas, sem a pequena dupla inseparável, quase ninguém fazia questão de utilizá-la.
A terceira regra, o hífen, aquele tracinho com o poder de separação das vogais, acaba por tombar, mas não cai totalmente. Anteriormente, era alvo de desarmonia entre as vogais, sendo o principal responsável pelo divórcio das nossas cinco amigas. Agora, pode haver total harmonia entre elas. Um exemplo disso pode ser aqui lembrado é a dos nossos motoristas de primeira viagem. Agora, além de adequarem-se as novas regras para obtenção da primeira carteira de habilitação, não poderão apenas, com sua própria autoajuda aprender a dirigir, terão que procurar a autoescola certa. Contudo, terá que ser uma autoescola com uma infraestrutura adequada, para não enfrentarem contraindicações quanto a sua primeira habilitação. Compreendendo assim, que não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal diferente da vogal com que se inicia o segundo elemento. Essa regra, que podemos dizer que é nova, vem para facilitar a nossa escrita. No entanto, um aviso: algumas palavras continuam separadas por hífen, não podendo seguir na contra-mão para não perderem uma parachoque, uma parabrisa ou ainda um paralama, deverá saber que não serão todas as nossas palavras da língua portuguesa que não mais utilizarão o hífen.
Para as palavras compostas, algumas comadres como a segunda-feira, terça-feira e suas vizinhas, continuam como estão, todas com hífen. As cores como o azul-celeste e o amarelo-ouro também permanecerão como dantes.
Na natureza também não será diferente. A couve-flor, por sua vez, continua com a sua autoestima elevadíssima. Num rápido diálogo com a rosa que toda formosa e cheirosa, deixa claro a sua desaprovação em utilizar o termo flor para a dona couve-flor, uma hortaliça com pele áspera e rude, corpo feio e ainda, com cheiro tão desagradável.
Sendo que, ela uma rosa, com pétalas cor-de-rosa com tonalidade rosa-choque, tão lisa e sedosa e com um perfume tão envolvente e sensual... Faz uma pergunta indignada a couve-flor:
- Como podem te chamar de flor? Isto é inadmissível!!! Eu sim que sou uma flor!
E a couve-flor muito calmamente e com ar de superioridade, responde:
- Querida, alôôôôôôu.......Do que adianta te chamarem de flor, se ninguém te come!!! Mas, sem ressentimentos, a rosa sabe que diante de r e s dobram-se a última letra e, não poderá ser antissocial, mantendo assim a amizade entre elas, mesmo fazendo uma força subumana, porque com palavras iniciadas por h perdem essa letra e juntam-se sem hífen.
E, continuando a falar de beleza. Agora vamos falar das flores, estas permanecem com o seu hífen. As flores da espécie da família composta, também ficam compostas em sua grafia, o mal-me-quer também conhecido como flor-das-almas relutam que sempre geram a dúvida cruel: ele me quer ou ele não me quer? Teimam em se juntar. Pois, sabe que não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição.
Mas, e os pássaros com nomes compostos, não podemos deixar de citá-los. Em busca do néctar das flores, o ágil beija-flor continua com hífen. E, o escandaloso e fofoqueiro bem-te-vi continuam também, contando pra todo mundo que já nos viu em algum lugar. Mas, se o recém-casado João-de-barro, por acaso ficar sem-terra para construir sua bela casa, ele saberá que com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, sempre se usará o hífen. Contudo, se o João-bobo quiser dar uma de esperto, ele saberá que, para ter um jantar delicioso terá que realizar muitos semicírculos, porque não se utiliza hífen diante de consoante diferente de r e s.
Porém, para sermos agora hiper-realistas, temos que saber que os sufixos terminados em r, que acompanham outra palavra iniciada com r, utilizarão o hífen. Entretanto como contra-ataque, se a palavra terminar com a mesma vogal que iniciar a próxima palavra devemos usar o hífen.
Tem aqueles prefixos que insistem em manter separando o pré- e o pró-. O pré-natal bateu o pé e manteve seu amigo hífen ao seu lado, rindo o tempo todo com o pós-parto de um alce-leão dente-de-sabre pré-histórico, que ninguém teve coragem de tocar no tracinho deles. E, o chato do pró - manteve o tracinho, como é o caso das palavras pró-labore, pró-desmatamento.
Agora, falando um pouco sobre os acentos. As palavras paroxítonas (aquelas que têm a penúltima sílaba mais forte) vão ficar sem seus companheiros inseparáveis. Essas sim perderão o acento dos ditongos abertos éi e oi. Com certeza, a assembleia perderá com essa nova regra. Mesmo tendo uma ideia muito boa, não poderá colocar em prática na escrita, pois sem paranoia, já houve a estreia da reforma ortográfica aqui no Brasil no mês de janeiro de 2009 e futuramente, acontecerá também para as pessoas europeias, quero dizer os nossos patrícios, os portugueses, a partir do ano de 2014. Mas há ainda, os heróis da resistência, que mantem os seus papéis, ganharão o troféu por manter o acento (porque tem a última sílaba mais forte).
Contudo, temos que deixar claro que vai ficar uma feiura, escrever todas essas palavras sem acento, mas a regra é clara, some o acento no i e no u fortes depois de ditongos (junção de duas vogais), em palavras paroxítonas. E, se eu disser que essas mudanças me pela de medo, e que chega de mudança, para com tudo isso. Terei que saber que, o acento diferencial também sumiu, as palavras pára, péla, pêlo, pólo, pêra, côa, mudaram agora é para, pela, pelo, polo, pera, côa. Só não some o acento diferencial em pôr (verbo) / por (preposição) e pôde (pretérito) / pode (presente) e, a palavra. fôrma, para diferenciar de forma, pode receber acento circunflexo. Outra informação interessante: os grupos gue, gui, que, qui, de verbos como averiguar, apaziguar, arguir, redarguir, enxaguar, some o acento agudo no u forte (mas, fala sério, quem é costumava usar o acento).
E, nosso amigo acento circunflexo, mais conhecido como chapeuzinho, será que ele também tem novidades para nós?
Tem sim! Para aqueles que creem que a reforma ortográfica veio pra ficar e, que leem com frequência sobre esse assuntos, alcançaram voos altíssimos no seu aprendizado, e se não tiverem enjoo para por em prática todas essas regras. Pois as palavras terminadas em êem e ôo (ou ôos) não receberão mais o acento circunflexo.
Portanto, se fizermos uma autoanálise, veremos que somos autossustentáveis e temos autocontrole para sermos antirracistas e nem tampouco antissociais, para reclamarmos demasiadamente, sem ao menos conhecermos profundamente a reforma, pois temos sim, algumas mudanças que poderemos recorrer a qualquer minidicionário para compreenderemos que não será uma grande e sim, uma minirreforma da nossa ortografia brasileira. Ficou até mais fácil, juntarmos palavras, tiramos acentos ou duplicarmos algumas letras. Admitimos que nossa língua portuguesa seja realmente difícil, mas aprendemos, ou, aliás, ainda, estamos aprendendo dia-a-dia como redigi-la corretamente. Quanto a utilizarmos ou não as novas regras, somos cidadãos livres, tão livres quanto amanhã como hoje, de falar e de escrever. Se isso é bom ou mal é apenas uma questão política. Pois como coloca Machado de Assis: “Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito".
[1] Professora do curso de Letras da Anhamguera/Uniderp Interativa, coordenadora do curso técnico Profuncionário, professora multiplicadora do Núcleo de tecnologia educacional de Dourados/MS e representante do Depto. de políticas sociais do Simted.
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